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Família Berço e Promotora de Toda Vocação

ENCONTRO E CONVIVÊNCIA ENTRE AS FAMÍLIAS DOS SEMINARISTAS DIOCESANOS

Os pais são as primeiras testemunhas, os primeiros “guardiões” de uma vocação.

Gosto muito da ênfase: “Berço de toda vocação”. Estamos um pouco acostumados – digo isso esperando não ofender ninguém – a rezar pelas vocações, o que significa que rezamos pelas vocações sacerdotais, ou no máximo, pelas de especial consagração.

A sociedade ocidental tal como se apresenta sugere-me que talvez devêssemos começar a rezar por cada vocação. Acho que podemos legitimamente nos fazer uma pergunta muito séria. Será apenas uma coincidência que a crise que a família tem enfrentado nas últimas décadas também seja acompanhada por uma crise sem precedentes de vocações sacerdotais (para não falar das ordens religiosas)?

Família, berço de toda vocação. Vou deter-me na imagem do berço que, a meu ver, se presta a algumas ideias interessantes.

O que imediatamente chama a atenção num berço é o seu acolhimento , tanto que às vezes (dizemos baixinho) nós, os adultos, invejamos aquelas crianças quando as vemos a dormir tão tranquilamente. Por experiência posso dizer, e posso dizer também de outros amigos, que não só a minha família de origem foi para mim o berço da minha vocação, mas também outras famílias que, de fato, me acolheram, abriram-se para mim as portas da casa e do coração, me fizeram sentir bem e em uma palavra, foram um exemplo para mim. Da mesma forma, espero e penso que as nossas famílias possam e estejam aptas a acolher cada vez mais e melhor jovens, namorados e outras famílias.

Então a ideia do berço me lembra a necessidade de paciência, respeitar os tempos de Deus e os tempos do outro. Olhamos para aqueles pacotinhos que estão dentro dos berços, alimentamos e tentamos garantir as melhores condições para que cresçam, mas não podemos fazer mais nada. Não é que puxando nossos filhos possamos esticá-los, nem inflá-los para engordar.

É assim na descoberta e no desenvolvimento de uma vocação: há momentos em que gostaria de poder forçar a mão, empurrar numa determinada direção, fechar estradas e obrigar a seguir caminhos fixos, mas não há nada fazer, podemos acompanhar uma vocação, também para apoiar, mas não para determinar, senão já não é uma vocação, ou seja, uma resposta livre para uma chamada, que não somos nós que fazemos.

A tentação para os pais e a família, pelo menos uma das tentações, é sempre se sentir culpados pelo que devemos fazer, ou pelo que os “bons pais” são capazes de fazer.

Nesse esforço diário de educação, encontramos um certo refrigério quando reconhecemos que a vocação é chamada (mas não somos nós que chamamos) e que todos – devemos ter certeza disso!!! mas às vezes duvidamos disso – ele tem o seu próprio; que estamos lidando com uma coisa pesada e às vezes desconfortável, mas sagrada, que é a liberdade de nossos filhos; que somos os principais responsáveis, mas que não estamos sozinhos. Estou pensando nos muitos “especialistas” nas várias ciências humanas que certamente podem ser de grande ajuda em muitas ocasiões. Mas penso também – e aqui refiro-me também à nossa experiência como famílias de seminaristas – nos “companheiros de viagem”, ou seja, nas famílias que tiveram os nossos problemas e dificuldades e as mesmas dores e constrangimentos com o chamado de nossos filhos a ser padres e nós já tínhamos projetado outras coisas para eles. Como podemos, como podemos comparar, consolar , enriquecer-se mutuamente.

Embora seja verdade que a paciência é necessária, também é verdade que, levada ao extremo, é tão prejudicial quanto a mais arbitrária interferência.

Então, depois da paciência, a ideia do berço me remete ao assunto da atenção e da capacidade de reação. As mães são exemplares nisso: mesmo quando parecem estar fazendo algo completamente diferente, talvez até em outra sala, na realidade estão com os ouvidos e os olhos no berço e ao menor sinal, lá estão elas, prontas para intervir, com uma reação adequada ao problema. Não precisamos nos alongar muito sobre isso porque é absolutamente claro que existem alguns sinais de alerta que, se enfrentados a tempo, são uma oportunidade de crescimento, se enfrentados tardiamente ou não enfrentados, podem levar a sérios consequências.

Dito assim e até banal, é óbvio. No entanto, também devemos admitir que às vezes achamos muito, muito difícil, como pais, reconhecer esses sinais de alarme, especialmente se eles nos são sugeridos por algum estranho. Da mesma forma, devemos aprender a saber dosar nossas reações.

Outro tema é o da paz: aproxima-se do berço em silêncio, falando baixinho. O silêncio é a capacidade de criar “espaços” onde na família todos possam estar a sós consigo mesmos, ou com Deus. Assim creio que uma vocação pode ser mais bem reconhecida de forma serena, ambiente tranquilo, onde não há gritaria, nem briga, nem crítica, mesmo nas pequenas coisas do dia a dia e desde que as crianças são pequenas.

Por fim, gostaria de dizer que se é verdade que a família é o berço de toda vocação, também é verdade que ela mesma é embalada pelas várias vocações com as quais entra em contato, filhos, sacerdotes, amigos, jovens , etc…

(Dom Nelson Ferreira)