9ª ASSEMBLEIA DIOCESANA DE PASTORAL
2ª Etapa (Novembro de 2019 a Junho de 2020).
Instrumentum laboris
OBJETIVO GERAL:
EVANGELIZAR as cidades na Diocese de Valença, cada vez mais urbanas, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude.
I- POSSIBILIDADES E DESAFIOS DA CULTURA URBANA Á EVANGELIZAÇÃO.
1- As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a comunidade é formada por homens que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do Reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para comunicá-la a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história (Concílio, Gaudium et Spes, n. 1).
Possibilidades para a ação evangelizadora e pastoral:
2- Para uma autêntica ação evangelizadora é imprescindível partir de Jesus Cristo. Essa fidelidade dos evangelizadores à Jesus Cristo exige, por sua vez, atenção às marcas do nosso tempo, ou seja, aos “sinais dos tempos”, que interpelam e exigem da Igreja uma resposta corajosa, audaciosa e eficaz. Precisamos então, fincar os pés na história.
3- Para evangelizar nas suas mais de duzentas e sessenta comunidades – rurais do ponto de vista geográfico, mas já envoltas na cultura urbana e globalizada (cf. DGAE 2019-2023), a Diocese de Valença, audaciosamente, lança um olhar de fé sobre as diversas realidades que a desafia, no intuito de (re)descobrir Aquele que habita e se revela nas casas, nos grupos, nas ruas, nas praças, nas áreas rurais e urbanas. “Presença esta que não precisa ser criada, mas descoberta, desvendada” (EG 71). Todavia, faz-se necessário e importante, a superação do comodismo e do individualismo pastoral em detrimento à plena confiança em Deus, que não se esconde dos que O buscam com coração sincero, mas revela-Se. Assim, a Assembleia Diocesana – momento de expressão sinodal da caminhada do Povo de Deus em nossa Igreja Particular em que sobressai algumas considerações específicas, tal como: OLHAR, ESCUTAR, RECONHECER e APROFUNDAR os desafios da evangelização, em vista a elaboração do Plano Diocesano de Pastoral e a implementação da Pastoral de conjunto interpela todos os fiéis a saírem de si e a reconhecerem no local onde atuam, a presença do Divino Cidadão que entre nós faz a Sua morada.
4- Muitos são os nossos desafios, dos quais sobressaem o individualismo, as desigualdades sociais, a drogas que ceifam muitas vidas, a violência que fere e mata a dignidade humana, o desemprego e a falta de perspectivas que levam à cultura do desencanto… Mas há também, em meio a estes tantos desafios um espaço de liberdade e de múltiplas oportunidades que proporcionam o encontro entre as pessoas, as oportunidades de trabalho, a educação, a cultura e progresso pessoal, as possibilidades de uma melhor interação e convívio no estabelecimento de vínculos fraternos e solidários. Imersos na cultura urbana, a qual somos enviados para evangelizar, é possível ver as marcas da exclusão nos rostos sofredores e nas vítimas da violência, dos desempregados, dos enfermos, dos dependentes químicos e encarcerados e nas juventudes (cf. DAp 407-430). Mas, por outro lado, em ações do poder público, organizações não governamentais, entidades, organismos e pastorais da Igreja, aparecem a beleza da solidariedade, o sonho da caridade que fala fortemente do Deus que habita a cidade. Em nosso território diocesano é possível reconhecer, na multidão dos trabalhadores que cuidam do dia a dia dos cidadãos sinais da vitória da vida sobre a morte e do amor sobre o ódio, reflexo da ressurreição do Senhor.
5- Na vida e na ação dos cristãos leigos e leigas, catequistas, bispo, padres, religiosos e religiosas, consagrados e consagradas, o Espírito de Deus alimenta a fé, desperta a esperança e faz frutificar a caridade. Tantos são os que se dedicaram e dedicam suas vidas em defesa dos mais pobres, na promoção da dignidade humana, ao serviço dos mais vulneráveis. Estes homens e mulheres, tornam-se, na cultura urbana, sinais luminosos de Cristo que, por amor, continua a entregar sua vida por todos. As mudanças que tanto queremos no mundo só serão reais se começarem em nós, a partir de nós, afetando, assim, o ambiente em que vivemos. A conversão pastoral é fruto da conversão pessoal. “Vai e faze o mesmo” (Lc 10, 37). Daí a importância de renovarmos, pessoalmente, nosso compromisso de cuidado e valorização da vida. […]. Somos imagem e semelhança de um Deus que é comunhão e que, em comunhão, cuida. (Texto base da CF/2020 nº 184)
6- A Diocese de Valença, em suas vinte e sete paróquias, possui em número maior, dentro de cada uma das paróquias, comunidades, Sociedades de Vida Apostólica, conventos, casas de formação religiosa, escolas e colégios ligados à Igreja, no qual vemos sobressair também uma variada organização do laicato e outras associações de fiéis. Tudo isso representa a imensa riqueza eclesial, que tem um potencial enorme para o testemunho de Jesus Cristo, presente nas nove cidades de nossa Diocese.
7- A Igreja, também aqui, tem como missão própria e específica comunicar a vida de Jesus Cristo à todas as pessoas, anunciando a Palavra, administrando os sacramentos e praticando a caridade. É oportuno recordar que o amor se mostra mais nas obras do que nas palavras: “Nem todo aquele que diz Senhor, Senhor…” (cf. Mt 7,21). Os discípulos missionários de Jesus Cristo têm a tarefa prioritária de dar testemunho do amor a Deus e ao próximo com obras concretas. Dizia Santo Alberto Hurtado: “Em nossas obras, nosso povo sabe que compreendemos sua dor” (DAp 386).
II – DESAFIOS URBANOS PARA UMA AÇÃO EVANGELIZADORA E PASTORAL
8- A Diocese de Valença, em suas diversas particularidades, está marcada por muitas ambivalências e contradições. Se de um lado vemos as possibilidades de um desenvolvimento social, crescimento pessoal, serviços e oportunidades econômicas, culturais e políticas, de outro, interpõe muitas dificuldades ao pleno desenvolvimento, principalmente quanto aos mais pobres. Tais ambivalências e contradições provocam grandes sofrimentos. As cidades, caracterizadas pelo abandono dos governantes, são palcos, tanto da prosperidade das pessoas, quanto da exclusão de milhares de seus habitantes (cf. EG 74). Neste ambiente, a Igreja é chamada a ser servidora de um diálogo difícil. Enquanto há pessoas que conseguem os meios adequados para o desenvolvimento da vida pessoal e familiar, muitíssimos são também os ‘meio-citadinos’ ou os ‘resíduos urbanos’” (EG 74). Nossas cidades possuem um acervo cultural extraordinário, mas muitos ainda não têm acesso ao “mundo” da cultura e da educação, principalmente grande parte dos adolescentes e jovens que não têm possibilidade de terminar o ensino médio. Nossas cidades ainda convivem com a triste realidade da evasão escolar dos jovens e sua plena exclusão social que, num contexto econômico e político fica ainda mais dramático.
9- Vemos uma grande concentração de partidos políticos, movimentos sociais, sindicatos e organizações não governamentais de diferentes matrizes ideológicas em jogo no processo democrático; entretanto, ainda há pouca formação política dos cidadãos; nas classes políticas, não são poucos os casos de corrupção, domínio de grandes grupos econômicos e o abuso de autoridade, levando a população ao descrédito na atuação e envolvimento político. Nota-se a preocupante intensificação do fenômeno da polarização partidária que provocam desavenças e inimizades nas redes sociais, nas comunidades cristãs e até no seio das famílias.
10- O aumento da violência em nossas cidades, até então pacatas e interioranas, gera um crescente medo e isolamento das pessoas, revelando a ineficácia do Estado e a sua incapacidade de prevenir ou coibir este fator e vencer o crime organizado. Em muitas áreas das nossas cidades, o crime organizado e o tráfico ocupam os espaços onde não há a efetiva presença do Estado, oferecendo à população alguns serviços em troca do silêncio e do compadrio.
11- Há lugares em que a exploração imobiliária desordenada, privilegia famílias de condição social mais elevada e subjuga as famílias humildes em condições habitacionais precárias. Será de grande importância ajudar na criação de políticas públicas que possibilitem as populações de áreas mais distantes ou de risco, alcançarem as condições dignas de habitação e acesso ao trabalho.
12- No contexto urbano, as juventudes se tornam vítimas, cada vez mais fáceis, do mercado da droga e da violência. Os jovens enfrentam a dificuldade no acesso ao primeiro emprego, da falta de oportunidades em educação de qualidade, de recreação saudável, entretenimentos e lazer e ainda gozam de uma falta de valores que se expressam na auto mutilação e na triste realidade do suicido e do homicídio.
13- O consumismo no assusta por excluir os pobres, as pessoas com deficiência, os doentes e idosos, que perdem seu lugar social, pois são avaliados somente pelo que possuem ou aparentam possuir. Enfatiza-se o consumo como uma aspiração humana, fortalecem-se o pragmatismo e o exibicionismo (cf. DAp 50-51), levando à deterioração do tecido social (cf. DAp 78). Com o individualismo nas decisões e o anonimato nas relações, as pessoas tendem a se isolarem e a viverem. O futuro torna-se incerto e passa a valer o aqui e o agora. Sobretudo no tocante aos jovens que vão se agarrando ao presente, como se o passado não existisse.
14- Os meios de comunicação, como poderosos instrumentos para fazer o bem, circular a verdade, promover o direito, a cidadania, a liberdade, a solidariedade, para formar a opinião pública e exercer influência na consciência das pessoas, não poucas vezes, criam sonhos irreais, destroem os valores, estimulam o fascínio pelo dinheiro, poder e fama. A internet, como nova tecnologia de comunicação e instrumento eficaz para construir a fraternidade e a partilha daquilo que é bom e belo, muitas vezes realça a violência, a destruição da vida, os comportamentos antiéticos e mesmo criminosos, e ainda difunde ideologias contrárias ao pensamento da Igreja em relação a família e a vida.
15- A “ética do mercado” e do lucro se impõem. A política, a religião, as práticas de solidariedade, o conhecimento, a ciência tornam-se simplesmente, mercadorias. O indivíduo se julga com o direito absoluto à felicidade, como bem privado. As uniões passageiras e incertas, a separação entre casamento e procriação, as parcerias conjugais do mesmo sexo, debilitam as relações humanas e familiares; o aborto tornou-se questão de ideologia, de marketing e de honra para alguns.
16- As políticas sociais na cidade, apesar de contribuírem para a ampliação das oportunidades e integração dos indivíduos, não conseguem romper as barreiras da desigualdade social, da miséria e suas implicações. Uma das possíveis razões para este fato é o desvio dos recursos destinados às políticas sociais que deveriam beneficiar os excluídos e necessitados, mas sequer chega até eles.
17- A degradação do meio ambiente, favorecida por grandes projetos viários, a cultura das queimadas, o esgoto in natura e o lixo não tratado, o precário saneamento básico, comprometem cada vez mais a qualidade de vida nas cidades e colocam em risco as reservas ambientais. Embora reconhecendo um crescimento da consciência e responsabilidade ecológica e ambiental, ainda é grande a dificuldade para se perceber que os impactos ambientais e sociais estão interligados entre si e a deterioração do meio ambiente coloca em risco a vida da população e do planeta.
18- A família continua a ser a instituição mais atingida pelas mudanças, pelo individualismo e pela perda das referências cristãs e éticas. Questões importantes para a vida e a dignidade da família são tratadas com descaso e até desprezo, inclusive em meios religiosos, como o casamento estável entre um homem e uma mulher, a liberdade na educação dos filhos, a transmissão da fé às novas gerações, a defesa da vida ainda no ventre materno, a sustentação da vida até o seu cume. As relações humanas sofrem em demasiado com as inversões de valores. As uniões tornam-se cada vez mais passageiras e fragmentadas, as separações provocam sofrimentos aos esposos e aos filhos. A afetividade não amadurecida prejudica as relações humanas de crianças, jovens, adultos e idosos, consequências disso são a banalização da sexualidade, os abusos sexuais, a gravidez precoce, a transmissão de doenças, o abuso de medicamentos. Casamentos frustrados e casais em segunda união são uma realidade sempre mais frequente, que desafia a ação pastoral da Igreja; da mesma forma, as “parcerias” do mesmo sexo contradizem o desígnio de Deus sobre a pessoa humana, a família e o matrimônio, e requerem uma atenção especial.
19- O drama da saúde pública é vivido cotidianamente por grande parcela da população, no aguardar ansioso por consultas, exames médicos, cirurgias, internações, terapias especializadas. Apesar da melhora em muitos serviços à saúde pública em prol da população, ainda é dramática e ineficiente a situação do atendimento à saúde.
III – NO CONTEXTO SOCIAL DO TERRITÓRIO DIOCESANO, EMERGEM GRANDES DESAFIOS PASTORAIS…
20- É crescente em nosso tempo uma religiosidade descompromissada com o ser humano e a dimensão eclesial da sua fé, visto a difusão de propostas religiosas “alienantes” e controversas, fruto do individualismo e do relativismo exacerbados. A falta de convicções fundamentadas na Palavra de Deus, e na Doutrina da Igreja, a avidez com que “supostos líderes religiosos” exploram a boa fé e as fragilidades das pessoas, a superficialidade na transmissão da fé cristã às novas gerações, a pouca convicção em matéria de fé dos próprios fiéis católicos, torna urgente e necessária uma ação evangelizadora mais consistente e capaz de auxiliar no aprofundar de uma fé viva e que leve-nos à conversão. Num tempo em que se dá mais atenção às testemunhas do que aos pregadores, é de grande importância que os fiéis cristãos saibam mostrar “as razões de sua esperança”, através da vida coerente com a fé, do conhecimento aprofundado da Palavra de Deus e do conteúdo da própria fé.
21- A medida que os anos avançam, vemos uma diminuição das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. São poucas as paróquias que têm um SAV – Serviço de Animação Vocacional, organizado, pelo qual padres, fiéis leigos, religiosos e religiosas ajudam os jovens num discernimento vocacional, despertando-os como sujeitos eclesiais e sociais.
22- Não faltam iniciativas para o despertar do laicato diocesano à consciência da sua vocação e missão. Todavia, sobressai o desafio de uma formação à uma eclesiologia de comunhão, que os inspire a superação da dimensão de um serviço laical ad intra e exclusivo ao altar e os prepare para a difusão ad extra da mensagem de salvação, em especial nos ambientes em que as pessoas não podem ouvi-la e conhecê-la, a não ser através de suas ações como leigos(as). Merecem maior estímulo as associações dos cristãos leigos(as) por categorias profissionais, e que visam o fortalecimento, o empenho comum na evangelização e o testemunho de fé nos âmbitos que lhes são comuns. Não se pode prender os leigos com acúmulos de trabalhos e ministérios nas estruturas do culto e da liturgia na Igreja, mas que se valorize em tudo a sua vocação secular.
23- A constante migração de fiéis católicos para outros grupos religiosos, em busca de soluções rápidas para os seus dramas, ou obtenção de respostas mais consistentes a sua busca de fé, deve ser vista como um sério apelo e desafio à nossa Igreja diocesana. Que haja maior empenho de todos, bispo, padres, conselhos, pastorais, movimentos e associações religiosas, na formação permanente e consistente dos fiéis na fé e doutrina católica, com base na Sagrada Escritura, no Catecismo da Igreja, nas orientações da Igreja e no testemunho dos santos(as). Somente com um autêntico e entusiasmado testemunho de fé, alimentado pela oração e sustentado pelo exemplo de tantos cristãos, é que as Comunidades poderão ser cada vez mais missionárias e ajudar os que se encontram na dúvida e no cansaço à redescoberta da alegria e beleza da fé católica.
24- No contexto urbano, em nossas paróquias, a importância do Domingo fica obscurecida, e o povo perde cada vez mais a motivação para frequentar a Igreja. Urge o incentivo, de forma incisiva, criativa e dinâmica, aos católicos à frequentarem o Domingo, como Dia do Senhor em suas Comunidades, para um encontro com o Senhor Ressuscitado presente na Eucaristia, na Palavra e na comunhão fraterna.
25- Na cultura do “descartável”, muitos são os casais fragilizados pela superficial ou até mínima formação cristã, pela forte mentalidade individualista e a falta de valores que levam a dissolução fácil da união conjugal. Os dados estatísticos mais recentes sobre a recepção dos Sacramentos são preocupantes e revelam uma queda considerável ao número dos que recebem os Sacramentos do Batismo, da Crisma, da Eucaristia e do Matrimônio. Tudo concorre à um desafio às paróquias, à Pastoral Familiar e aos Movimentos Eclesiais voltados às famílias, num acompanhamento de casais e suas famílias, a fim de, viverem sua união matrimonial e a vida em família na graça do Senhor, e para comunicarem às novas gerações o maravilhoso tesouro da fé. Por outro lado, há o imenso desafio de uma boa pastoral dos Sacramentos de iniciação à vida cristã e dos demais Sacramentos.
26- A fragmentação e a fragilização dos valores humanos e cristãos levam a deterioração dos costumes. A honestidade pessoal e a moralidade pública, pautada por interesses pessoais ou de grupos, prescinde do fundamento ético. A consciência moral, por vezes determinada pelos fortes apelos da mídia, faz prevalecer o que é “politicamente correto”, sem o compromisso com o profetismo. Para muitos, a palavra da Igreja, no que diz respeito a fé e a moral, soa como agressão ao indivíduo e a sua liberdade. A vida humana passa a ser vista sob a ótica utilitarista, e o ser humano, ainda no ventre materno, é ameaçado pela legalização do aborto.
27- Desafios à missão evangelizadora na Diocese de Valença são também a pobreza, as injustiças e a falta de estruturas mínimas de muitas comunidades, inclusive as rurais. A carência de recursos materiais requer vigorosos laços de solidariedade entre as diversas comunidades e paróquias, num intercâmbio de bens e energias para que não falte a ninguém, sobretudo aos pobres, o anúncio do Evangelho.
28- Uma atenção pastoral e evangelizadora à infância, adolescência e juventude é absolutamente necessária para a Igreja, em sua missão e seu futuro com uma catequese de iniciação cristã em todos os níveis. Faz-se necessário o acompanhamento pastoral das escolas, colégios, faculdades e universidades – ambientes de maior contato com a maioria dos jovens, adolescentes e crianças.
29- Nota-se, nos muitos agentes de pastoral (sacerdotes, religiosos e leigos) um agravamento do individualismo, o apego aos cargos e um declínio da alegria e do entusiasmo missionário. Vivemos uma pastoral num clima de cansaço e desânimo, de desgastes amargos desnecessários e excessivas críticas e cobranças, mas poucas e construtivas contribuições e disponibilidades ao que é necessário à uma evangelizadora. Há ainda uma preocupação exagerada com o tempo pessoal, com os interesses individuais e com o próprio bem-estar. Muitos caem na apatia egoísta paralisadora (cf. EG 81-83). Neste sentido, a Igreja diocesana necessita de maior entusiasmo e ardor missionário, junto aos seus agentes (sacerdotes e leigos), que buscam fugir dos compromissos e responsabilidades.
30- A dimensão comunitária é fundamental na Igreja, pois se inspira na própria Santíssima Trindade, a perfeita comunidade de amor. Sem comunidade não há como viver autenticamente a experiência cristã. Na Trindade o amor é distinção das pessoas e unidade do mistério. Na Igreja, a diversidade de dons e carismas propõe a unidade do povo de Deus na variedade […]. Inspirada na Trindade, a Igreja não pode existir na uniformidade que anula a riqueza dos dons do Espírito Santo. Como a Trindade, também a comunidade cristã vive no amor que permite acolhida e doação, que une as diferenças num só coração. A comunhão e a missão trinitária inspiram a missão da comunidade que nasce da consciência de que muitos vivem sem o amor de Deus. O desejo da Trindade é que todos conheçam e participem desse amor. Não há comunidade cristã que não seja missionária; se ela esquece a missão, deixa de ser cristã. Por isso a comunidade vive a comunhão na diversidade, aberta para acolher quem se aproxima e possibilitar que muitos participem, isto é, tomem parte da comunidade que se empenha em viver na comunhão com a Trindade. A Igreja se organiza em dioceses, nas quais estão as paróquias e comunidades na busca de viver a comunhão trinitária (CNBB Doc 100 nº 154 – 157).
31- O termo comunidade abrange todos os agrupamentos humanos e por diferentes meios. O que a caracteriza é o fato de agregar seus membros numa identidade coletiva. Geralmente, comunidade significa ter algo em comum. Formam comunidade aqueles que têm em comum ou compartilham o que têm e o que são. Por isso, é importante delimitar o que se entende por comunidade eclesial. Teologicamente a palavra comunidade significa a união íntima ou a comunhão das pessoas entre si e delas com Deus Trindade. Essa comunhão se realiza fundamentalmente pelo Batismo e pela Eucaristia. Assim, a comunidade participa da vida divina na partilha de vida fraterna ao comungar na mesma mesa, ao professar a mesma fé recebida dos apóstolos ao testemunhar a caridade que revela o amor salvífico de Deus para a humanidade (CNBB Doc 100 nº 169 – 170).
32- A paróquia, entendida como rede de comunidades, é o local onde se ouve a convocação feita por Deus, em Cristo, para que todos sejam um e vivam como irmãos. É a Igreja que está onde as pessoas se encontram, independentemente dos vínculos de território, de moradia ou de pertença geográfica. É a casa-comunidade onde as pessoas se encontram. O chamado é para todos. É vocação para todos formarem a grande família de Deus, a família dos que “ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (CNBB Doc 100 nº 171). O sentido comunitário realiza e reforça a dimensão pessoal de cada cristão. Como no corpo, em que cada membro é necessário para o bem de todos, na comunidade […]. A imagem do corpo não pretende reduzir o crente a simples parte de um todo anônimo, a mero elemento de uma mera engrenagem”. A unidade da comunidade não extingue a pluralidade de pessoas. Os dons e carismas individuais, partilhados, colaboram para o enriquecimento de toda a comunidade. (CNBB Doc 100 nº 173)
IV- A MISSÃO DA DIOCESE
33- Em uma Diocese grande em distâncias e diversificada nas realidades como a nossa, não se pode pensar que, agindo da mesma forma, evangelizaremos. Apresentamos horizontes a partir do qual todos busquem caminhar na mesma direção, a exemplo das primeiras comunidades cristãs, que mostraram ao mundo a novidade do Reino de Deus. Somos nesta porção geográfica, a Igreja de Jesus Cristo e a nossa característica principal deve ser a vida comunitária. Somos diversas comunidades que, desde as suas origens, têm a missão de fazer discípulos de Jesus Cristo todos os povos. Somos família de Deus, somos Igreja Missionária.
As Comunidades Eclesiais Missionárias são o terreno fértil para o anúncio e o encontro com Jesus Cristo, por isso, elas são a nossa meta. Ser Comunidade Eclesial Missionária é ser família que vive as dimensões pessoal, comunitária e social da evangelização; é ser família marcada pela união e mútua colaboração entre seus membros; é acolher sempre quem chega; ir ao encontro dos que não vieram; e ser casa do Pão, da Palavra, da caridade e da Ação Missionária. Como Comunidade Eclesial Missionária, abrimos caminho para responder aos desafios do momento num mundo em profunda mudanças.
A Comunidade-Casa
34- Precisamos formar comunidades que vivam como Casa da Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação Missionária, espaço de encontro, da ternura e da solidariedade, que sejam o lugar da família e tenham suas portas abertas, tornando-se proféticas em uma sociedade individualista e que sejam sinais proféticos de casa, de relações fraternas.
Casa: espaço de encontro
35- Nossas comunidades precisam ser oásis de misericórdia no deserto da história, lugar de encontro com Deus e com os irmãos e irmãs, para ser espaço de santificação, do cuidado entre os irmãos, lugar de presença de Cristo e da realização do projeto de Deus
Casa: lugar da ternura
36- Precisamos olhar o outro e ver nele um irmão, acolhê-lo e perceber nele alguém que partilha de um destino comum. A afetividade, a empatia e a ternura devem ser as marcas dessa casa da proximidade, do amor desinteressado, relacional e existencial, que toca o coração, a vida, desperta esperança, desejos e sonhos. Somos a casa do Pão que nos faz caminhar juntos. Nessa casa, rezamos o Pai-Nosso, porque somos irmãos e não somos indiferentes uns aos outros. Construímos fraternidade no esforço diário de conversão, de reconciliação, de perdão e de resiliência.
Casa: lugar das famílias
37- A família é ponto de chagada para nossa ação pastoral e ponto de partida para a vida comunitária mais ampla. Devemos ir ao encontro das famílias em sua condição real de vida e acolhê-las na comunidade para que experimentem a misericórdia de Deus.
Animadas pela vida comunitária, as famílias podem alargar o horizonte do seu lar para acolher os irmãos e irmãs, formar Igrejas e se tornarem núcleos comunitários.
Casa: lugar de portas sempre abertas
38- Na comunidade, quem está dentro é chamado a sair e ir ao encontro do outro onde quer que ele esteja, para ser Porta de Misericórdia para todos. Precisamos multiplicar essa experiência, assumindo a descentralização para formar redes de comunidades nas quais todos saiam da própria comodidade, alcancem as periferias e abram a Porta da Misericórdia a todos os irmãos onde quer que estejam.
V- PISTAS PARA A AÇÃO PASTORAL NA DIOCESE DE VALENÇA
39- A caridade é o coração e o dinamismo mais autêntico da missão da Igreja no contexto de uma cultura urbana. As cidades, cada vez mais agnósticas e descrentes, abre à nós enquanto Igreja, um vasto campo de missão. Em meio a um número crescente de pessoas distantes da prática religiosa e que levam a vida pessoal e social como se Deus não existisse, a evangelização passa necessariamente pela caridade, pela celebração, pelo serviço e pelo resgate da Doutrina social da Igreja. Evangelizar é fazer o que Jesus fez, isto é, por palavras e ações expressar o amor misericordioso e compassivo para com todos, especialmente para com os pequeninos e esquecidos de nossa sociedade injusta e excludente. Evangelizar é, prioritariamente, testemunhar a fé com as obras (cf. Tg 2, 14s), Por consequência, a Igreja não pode, sob pena de trair a missão de Jesus, separar a salvação da justiça e da libertação, ou, ainda, a evangelização da ação caritativa. A caridade significa tanto o amor que Deus, em Cristo, tem para conosco, como amor que nós devemos ter para com nossos semelhantes.
Objetivos específicos para a Ação Pastoral na Diocese de Valença:
CASA DA PALAVRA |
40- Promover a consciência e a formação da Palavra de Deus, em todos os níveis da Diocese.
Pistas de ação:
· Produzir subsídios bíblicos que evidenciem o lugar e a Palavra de Deus na vida cristã e na vida das Comunidades Eclesiais Missionárias.
· Nos diferentes cursos de formação – comunitário, paroquial, regional ou diocesano, tornar a Palavra de Deus como verdadeira fonte inspiradora e mantenedora da vida cristã.
· Intensificar, de forma criativa nas atividades e execução do Mês da Bíblia, principalmente entre as crianças e os jovens.
· Promover formações ao Ministério da Palavra e a presidência das Celebrações, quando há ausência de presbíteros.
· Redescobrir o lugar da Palavra de Deus na Iniciação Cristã de jovens e adultos, através de cursos da Lectio Divina.
· Investir na melhoria das homilias.
41- Fomentar a participação nos Círculos Bíblicos, como caminho de uma animação bíblica de toda a pastoral.
Pistas de ação:
· Investir e promover a coordenação paroquial para os Círculos Bíblicos como meio de acompanhamento e direcionamento dos trabalhos.
· Divulgar, promover e multiplicar a atividade dos Círculos Bíblicos através das celebrações da Palavra e da Eucaristia.
· Promover encontros diocesanos/regionais de Círculos Bíblicos, por ocasião do mês da Bíblia.
· Promover formações bíblicas e metodológicas para os animadores de Círculos Bíblicos motivando a participação das crianças, adolescentes e dos jovens.
· A partir dos Círculos Bíblicos, trabalhar a formação para a missão através da realização de mutirões missionários.
42- Favorecer uma catequese, cada vez mais bíblica e litúrgica, que favoreça e contribua com a efetivação da Iniciação à Vida Cristã.
Pistas de ação:
· Elaborar material adequado para tal fim, e que seja lúdico, mistagógico e catequético.
· Aprofundar e elaborar um Plano Diocesano de Iniciação Cristã.
· Incentivar e promover formas para que todo fiel católico tenha sua Bíblia
CASA DO PÃO |
43- Incentivar a participação na Eucaristia, destacando de forma mais expressiva e envolvente, a compreensão do mistério que celebramos.
Pistas de ação:
· Investir e constituir em cada paróquia uma coordenação que promova e intensifique a formação dos Ministérios Extraordinários da Eucaristia e da Palavra, utilizando os novos meios de comunicação.
· Apresentar subsídios que auxiliem no aprofundamento do sentido e da vivência da Eucaristia.
· Manter, de forma frequente e envolvente os cursos de formação para as equipes de liturgia em cada regional.
44- Trabalhar mais, e de forma direcionada, a vivência da Eucaristia em seus desdobramentos na missão e serviço aos irmãos.
Pistas de ação:
· Intensificar as celebrações comuns em nível paroquial, regional e diocesano, principalmente nas grandes solenidades e festas.
· Propor retiros espirituais para os diversos ministérios, catequistas e lideranças, nas paróquias/regional.
· Valorizar mais a dimensão da Acolhida em nossas celebrações e encontros pastorais.
45- Trabalhar mais e expressivamente, o sentido da Eucaristia como alimento da fé ao discipulado missionário superando as ideias reducionistas.
Pistas de ação:
· Oferecer formação teológico-litúrgica para a pastoral da liturgia por meio dos diversos recursos didáticos e pedagógicos.
· Vivenciar mais e melhor a Eucaristia, enquanto momento celebrativo, o tempo litúrgico, as solenidades, as festas e as memórias obrigatórias ou facultativas.
· Melhorar o material litúrgico e celebrativo utilizados pelas diversas paróquias/comunidades.
· Resgatar a dimensão do silêncio litúrgico nos momentos de celebração da Eucaristia e da Palavra.
· Despertar o espírito de oração em sua dimensão pessoal e comunitária.
· Promover retiros espirituais nas paróquias e comunidades, a partir dos variados métodos de oração.
· Oferecer formação espiritual e de oração, visando a melhora na qualidade da oração pessoal dos fiéis.
· Preparar mais e investir na melhora da pastoral do canto, possibilitando aos músicos e cantores, critérios pastorais e litúrgicos para o exercício de tão grande ministério.
· Ter maior atenção para que as pessoas não se profissionalizem nos mistérios e que estes sejam exercidos por um determinado tempo, definidos conforme a orientação diocesana, pois um ministério extraordinário não pode se tornar ordinário.
· Cuidar mais e melhor do espaço celebrativo – templo, ornamentação, imagens, alfaias, móveis…
CASA DA CARIDADE |
46- Ao reassumir com força a opção pelos pobres, a Diocese de Valença manifesta que, todo o processo evangelizador deve envolver a promoção humana e a sua autêntica libertação ‘sem a qual não é possível uma ordem justa na sociedade’. Entendemos, além disso, que a verdadeira promoção humana não pode ser reduzida à aspectos pessoais. Esta ação ‘deve ser integral, isto é, deve promover todos os homens e o homem todo’, a partir da vida nova em Jesus Cristo que transforma a pessoa de tal maneira que ‘a faz sujeito de seu próprio desenvolvimento. Para a Igreja, o serviço da caridade, assim como o anúncio da Palavra e a celebração dos sacramentos, ‘é a expressão irrenunciável da própria essência” (DAp p.180).
Pistas de ação:
· Apoiar e fortalecer o desenvolvimento das Pastorais Sociais nas paróquias, de modo que todas se organizem em vista de uma ação sócio transformadora.
· Promover encontro anual de formação e maior organização para os agentes das Pastorais Sociais.
47- Fomentar a participação ativa dos fiéis e suas comunidades eclesiais nas políticas públicas, em vista uma maior promoção humana.
Pistas de ação:
· Fortalecer a Pastoral da Sobriedade e apoiar iniciativas já existentes de prevenção e recuperação de dependentes químicos.
· Recuperar e dinamizar a Pastoral da Ecologia integral.
· Formar agentes para atuação junto aos Conselhos Municipais, oferecendo-lhes suporte e apoio à esse exercício representativo.
· Criar a Escola de Formação e Doutrina Social da Igreja nos regionais/cidades.
· Promover ainda mais a Pastoral da Criança em todas as paróquias e cidades.
· Redescobrir a índole Evangelizadora das pastorais sociais e buscar a superação de um mero assistencialismo.
48- Motivar a devolução consciente do Dízimo e sua devida aplicação.
Pistas de ação:
· Promover maior conscientização sobre o Dízimo e a sua aplicação a partir das dimensões religiosa, social e missionária.
· Criar e promover a Pastoral do Dízimo nas paróquias e comunidades, através de subsídios e conteúdo específico de captação de recursos e formação de agentes à esta pastoral.
· Evangelizar através do dízimo com dinamismo e criatividade.
· Investir efusivamente na prevenção às drogas lícitas e ilícitas.
CASA DA MISSÃO |
49- A comunhão exige a missão com o seu dinamismo essencial. A Igreja, que se percebe como comunidade de fé, é impelida, naturalmente, a continuar a missão de Jesus que a convocou, constituiu e enviou. Assim, a Igreja é chamada a assumir ativamente, com todos os seus membros, a mesma missão de Cristo, proclamando o Reino de Deus e testemunhando o Evangelho em todo tempo e lugar, reconhecendo a riqueza evangélica das diferentes culturas.
Comunhão e missão são dois aspectos inseparáveis na Igreja. A comunhão se concretiza no empenho missionário e na partilha dos valores e experiências… Evangelizar, como bem sabemos, é a missão primordial da Igreja, cujo referencial é o próprio Jesus, “o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hb 13, 8). O Decreto Conciliar Ad Gentes, a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (Anúncio do Evangelho, de Paulo VI), Evangelli Gaudium (A Alegria do Evangelho), o documento 40 da CNBB, entre outros Documentos do Magistério da Igreja, revelam-nos a grande preocupação com esta dimensão da vida eclesial.
O livro do Atos dos Apóstolos expressa uma Igreja inserida na história, através do anúncio do ressuscitado, suscitando seguidores de Jesus Cristo numa plena adesão de fé. O “Ide e fazei de todos discípulos…” (At 28, 16s) se torna ainda mais exigente neste terceiro milênio, em face dos grandes desafios que nos cercam, especialmente quanto aos cristãos indiferentes e afastados. Neste sentido, precisamos à luz das Diretrizes da Igreja no Brasil, organizar e realizar as tarefas de animação, formação, organização e cooperação missionária em todos os níveis da Igreja, e dedicar uma especial atenção à espiritualidade missionária.
Pistas de ação:
· Organizar e valorizar a Pastoral da Educação, em vista o valor e a importância de uma educação de qualidade e integral.
· Promover maior aproximação junto aos professores(as), a fim de despertá-los para a consciência missionária e celebrar com maior destaque o dia do professor, promovendo o seu valor e respeito.
· Pensar, organizar e priorizar nos planejamentos a Pastoral Universitária a nível de cidades.
· Organizar a Pascom – Pastoral da Comunicação, nas paróquias/regionais.
· Organizar Missões Populares nas áreas periféricas das cidades e paróquias e as Santas Missões Populares nas paroquiais/regionais.
· Promover a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
· Investir na criação e promoção dos COMIPAS – Conselhos Missionários Paroquiais e COMIDI – Conselho Missionário Diocesano.
· Promover e valorizar os trabalhos da Infância e Adolescência Missionária e Juventude Missionária.
· Resgatar a dimensão da missão ad gentes; resgatar o projeto de igrejas irmãs – Diocese para Diocese.